daCozinha » Caldeirada http://dacozinha.net By JoeBest Wed, 16 Mar 2016 19:16:21 +0000 pt-PT hourly 1 http://wordpress.org/?v=3.9.11 O menino, a praia e gostar de peixe azul http://dacozinha.net/2012/08/o-menino-a-praia-e-gostar-de-peixe-azul/ http://dacozinha.net/2012/08/o-menino-a-praia-e-gostar-de-peixe-azul/#comments Mon, 06 Aug 2012 13:20:53 +0000 http://dacozinha.net/?p=3163 Imagem (3)

Fui pescador da arte da xávega na Costa de Caparica. Andei ao mar com o Alemão, com o Corvo e com o Zé Braço (e filhos, Zé Aires e Bernardino) para mal dos pecados do meu pai e principalmente da minha mãe, que não dormia enquanto eu não chegasse…   Às algas, entre o Tarquínio […]]]>
Imagem (3)

Fui pescador da arte da xávega na Costa de Caparica. Andei ao mar com o Alemão, com o Corvo e com o Zé Braço (e filhos, Zé Aires e Bernardino) para mal dos pecados do meu pai e principalmente da minha mãe, que não dormia enquanto eu não chegasse…

 

Às algas, entre o Tarquínio e o Paraíso, há 40 anos…

 

O melhor carapau do mundo, o ouro branco da Fonte da Telha

Carapaus na Fonte da Telha

Foto de Francisco Santos, 2007

Embarquei ao remo e aparelhei barcos, sempre com a recoveira carregada e bem carregada. Sei fazer redes de 3 panos, sei cosê-las e tambem sei largar um estramalho a cercar um esporão. Aprendi a fazer aparelhos com 200 e 300 anzóis, aparelhá-los numa canoa de verga e a largá-los também. Aprendi a pescar assim ao robalo, em dias de inverno rigoroso.

Quando ia ao mar com a companha, levava um maço de SG Gigante que era o que eu fumava e levava um de Kentucky, para os cravas.

Comia peixe que nunca passou pelo estreito de muita gente, deixava alguidares de peixe vivo à porta de casa e corria logo para a praia, para ajudar a montar toldos e barracas. Mergulhava em apneia no Scott, cargueiro de chumbo afundado em frente à Nova Praia, que tinha mexilhões com 15 cm de comprimento. E safios de 2 metros. E fanecas aos milhares.

 Eu e o Eduardo, na praia do Paraíso, Caparica

Havia uma manobra de pesca, que era quando a camarinha e o krill se aproximavam da costa e o carapau vinha atrás para comer…chamava-se “ir ao mar óver-dia” que penso que queria dizer “a-ver-o-dia” porque em vez de pescarmos do pôr do sol até de madrugada, pescávamos da madrugada até nascer o sol, mais perto de terra. Lembro-me de uma destas safras ter rendido 200 caixas de carapau e de ter ganho 5500$00 à  minha parte, mais de meio mês de trabalho comparando com o salário de recepcionista de hotel na altura…

E todos, mais ou menos, repartiam assim o saco (todos os arrais tinham um saco de pano, com as contas “de exploração”)

  • 3 partes – para o dono da arte – uma por ele, uma pelo barco, outra pela rede
  • parte e um quarto – para quem largava a rede e alava, ou remador experiente
  • 1 parte – para os adultos que embarcavam e alavam
  • 3/4 de parte – para adolescentes trabalhadores que alavam e ajudavam a aparelhar o barco
  • 1/2 parte para as mulheres que ajudavam a alar e a escolher peixe
  • 1/4 de parte  - para os gaiatos que colhiam e enrolavam a corda

Uma das maiores mágoas que guardo, é por causa da cavala e a sarda. Há sítios onde a cavala custa mais cara que o camarão, hoje em dia. Pensar que deixávamos toneladas no areal, de madrugada. Sem ninguém para as aproveitar. Não compensava nem era justo levar caixas para a lota e pagarem-nos 60$00 por 20 kg de peixe e no dia a seguir na praça, custar 200$00 o kilo aos veraneantes.

Na altura a cavala, o sarrajão, a sardinha e o chicharro eram “peixe azul” (dito com desdém) ou raimoso. Hoje têm Omega3 e já são o máximo.

Pelo menos os meus amigos que ao longo da vida foram cavala-evangelizados por mim, sabem que não era à toa que descrevia o peixe como sendo maravilhoso…e uma cavala de Julho, escalada e assada sobre brasas de bom carvão é uma delicatessen!

Aprendi a fazer caldeiradas, pitaus de ratão e raia, ameijoas japónicas da Trafaria e canivetes do Bugio. Aprendi a apanhar cadelinhas(conquilhas) grandes e a escolher as marés melhores para o fazer.

E assim cresci e me fiz homem nos areais da minha terra. Da minha Costa, porque fui concebido e criado nela. Nasci naquela casinha de outro senhor da Costa, o Alfredo, às Picoas. Onde nasceu meia Lisboa.

 

Obrigado também ao mar e aos homens do mar, que me fizeram conservar este menino que se emociona a contar-vos isto…

Take my love,

Joe Best

]]>
http://dacozinha.net/2012/08/o-menino-a-praia-e-gostar-de-peixe-azul/feed/ 2
Caldeirada de tubarão ( Mako ou Anequim) com batata doce http://dacozinha.net/2011/12/caldeirada-de-tubarao-mako-ou-anequim-com-batata-doce/ http://dacozinha.net/2011/12/caldeirada-de-tubarao-mako-ou-anequim-com-batata-doce/#comments Sun, 04 Dec 2011 16:35:16 +0000 http://dacozinha.net/?p=2011 SAM_9838

O aquecimento global provocou uma série de alterações na vida animal ao nível dos ecossistemas e não só. Uma delas, por exemplo, foi aproximar os tubarões da nossa costa. Na minha infância, era frequente ver no mercado com abundância e baixo preço, tubarão Cação e na Costa de Caparica, os pescadores da arte da xávega, […]]]>
SAM_9838

O aquecimento global provocou uma série de alterações na vida animal ao nível dos ecossistemas e não só. Uma delas, por exemplo, foi aproximar os tubarões da nossa costa. Na minha infância, era frequente ver no mercado com abundância e baixo preço, tubarão Cação e na Costa de Caparica, os pescadores da arte da xávega, até na areia deixavam ficar o tubarão Gata. Hoje em dia, há uma série de outras espécies vendidas como tal, sob o nome de Cação. O que nunca mais vi mesmo foi um Cação-anjo, por exemplo. Barroso, lixa e tintureira são os que se encontram com mais regularidade, apesar de peixeiras e peixarias chamarem Cação a tudo. O gosto de um Cação verdadeiro, mesmo bem esfolado ( caso contrário cheira e sabe intensamente a amoníaco) é sempre acre e vincado, quase uma assinatura gustativa. Assim mal explicado, mesmo ao natural, parece sempre que foi temperado com limão…

Um amigo, professor de mergulho e apanhador de mariscos, num jantar que fiz para um grupo de mergulhadores, disse-me que tinha visto 2 tubarões Mako, muito perto da costa, quando levou um grupo de iniciados, a mergulhar perto do cabo Espichel…e agora passado pouco tempo, começam a surgir no mercado de frescos e congelados, outras espécies de tubarão que não os habituais Tintureira, Barroso(ou Gata) , Lixa grande e pequeno ou ainda o Pata roxa(ou Caneja, na Ericeira, com que fazem a radical Caneja de infundice) e entre eles o tubarão Mako ou Anequim.

Foi com umas meias postas enormes que fiz a caldeirada de ontem para um dia de folga em família depois de um evento oito@mesa memorável, que virou dez@mesa numa entrevista on-job para a Revista Sábado.

Ingredientes: (para 4 pessoas)

  • 1,2kg de tubarão Anequim (ou Mako ) salpicado de flor de sal
  • 2 pimentos vermelhos
  • 2 cebolas grandes
  • 2 dentes de alho esmagados
  • 1 folha de louro
  • 4 tomates chucha maduros
  • malaguetas frescas ou secas (opcional)
  • ervas frescas a gosto
  • fumet caseiro (ou 1 caldo de peixe de compra)
  • azeite
  • 150 ml vinho branco
  • 100 ml de água do mar, fervida e filtrada
  • 2 batatas doces, grandes

Modo de preparação:

Depois do peixe salpicado de sal, lave e prepare os vegetais.

Corte o pimento em tiras, descartando as sementes e as partes brancas interiores.

Corte a cebola em meias luas.

Corte a batata doce em rodelas com cerca de 1 cm.

Corte os tomates em gomos, com ou sem pele como costuma usar.

Num tacho, forre o fundo com azeite e disponha por camadas, os pimentos, as cebolas,as batatas e os tomates.

Junte o fumet de peixe (ou o cubo) , os alhos e o louro e regue com vinho branco.

Disponha o peixe por cima de todos os ingredientes.

Faça uma boneca de ervas aromáticas frescas a gosto e junte no meio do peixe – este levou salsa, coentros e hortelã.

Depois de ferver, tape o tacho e deixe cozer por 15 minutos.

Não mexa com colheres, se necessário abane o tacho num movimento lento e circular.

Espere 5 minutos para apurar e sirva sobre pão torrado esfregado com folhas de hortelã e bem regado de molho.

Todas as fotos na página DaCozinha no facebook

Um vinho branco seco ligeiramente estagiado em madeira, é o indicado para esta caldeirada. Mas como o vinho também tem a ver com o estado de espírito e com o que nos apetece no momento, esta caldeirada foi harmonizada com um Douro tinto, proveniente de agricultura sustentável…

Bom apetite, take my love.

JoeBest

]]>
http://dacozinha.net/2011/12/caldeirada-de-tubarao-mako-ou-anequim-com-batata-doce/feed/ 0