daCozinha » Costa de Caparica http://dacozinha.net By JoeBest Wed, 16 Mar 2016 19:16:21 +0000 pt-PT hourly 1 http://wordpress.org/?v=3.9.11 1 de Maio de 2013 – 30 Anos DaCozinha, sempre a combater! http://dacozinha.net/2013/05/1-de-maio-de-2013-30-anos-dacozinha-sempre-a-combater/ http://dacozinha.net/2013/05/1-de-maio-de-2013-30-anos-dacozinha-sempre-a-combater/#comments Wed, 01 May 2013 11:09:07 +0000 http://dacozinha.net/?p=3950 1934-Hotel-Praia-do-Sol_thumb6

Dia 1 de Maio de 1983. O dia que realmente mudou a minha vida. O dia em que deixei de ir ao mar, às conquilhas e aos mexilhões, pescar ao aparelho e apanhar navalheiras e polvos, que me garantiam dinheiro para as imperiais e tabaco e arranjei o 1º emprego…   A praia, os peixes […]]]>
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Dia 1 de Maio de 1983. O dia que realmente mudou a minha vida. O dia em que deixei de ir ao mar, às conquilhas e aos mexilhões, pescar ao aparelho e apanhar navalheiras e polvos, que me garantiam dinheiro para as imperiais e tabaco e arranjei o 1º emprego…

 

Eduardo e eu

A praia, os peixes e mariscos, os amigos…

 

A minha mãe perguntou-me se queria ir trabalhar para a residencial Santo António, tinham-lhe pedido na UCAL, onde se comprava leite na Caparica e ponto de encontro de algumas caparican wifes, as soccer moms lá do sítio,  se arranjava alguém para a recepção da Pensão Santo António, uma residencial *** com reminiscências belle époque, bem frequentada e sempre cheia, de veraneantes banhistas abastados a residência oficial de um então chamado caixeiro-viajante, que morava no quarto 6. Era propriedade do senhor Henrique Júdice Leote Cavaco, familiar de Cavaco Silva, penso que primo direito do pai. Austero e rigoroso, casou aos 77 anos com a dona Maria Augusta, de 26. Ensinou-me a criar rotinas de trabalho enquanto recepcionista e ensinou-me também a importância da polivalência. Mostrou-me que nas horas mortas do final de noite podia ajudar e adiantar serviço para as camareiras que preparavam também os pequenos almoços. A despensa cheirava tão bem que ainda hoje me lembro do cheiro doce que emanava de lá. Muito arrumada e organizada, cheia de compotas, pacotinhos de marmelada em cubos, manteiga em doses e caixas industriais de bolachas Preciosa, waffers e shortcakes.

Uma coisa muito boa da residencial é que a recepção era virada para as traseiras da Fábrica de Pastéis de Santo António e ao mesmo tempo que podia namoriscar as empregadas, também era brindado com sobras de fim de noite. Lembro-me bem dos Garibaldi, um bolo com tradição na Caparica, do Costa Nova ao Capote, do Papo Seco aos Pastéis de Santo António.

garibaldi

 

Eram tempos do PBX, pouco mais de uma década antes das comunicações celulares, eram tempos sem fax nem impressoras, eram tempos de registo dos hóspedes no livro do balcão com o mesmo nome. Eram tempos em que se ia todos os dias à esquadra da Costa de Caparica entregar as tiras de rodapé com o canhoto das entradas e saídas dos hóspedes. As gorjetas eram muito boas, normalmente 500$00, que eram uma espécie de preço de tabela, concertação dos hóspedes séniores. Também carreguei uma vez duas pesadíssimas malas pelo elevador de degraus da residencial, que me renderam 2$50. Vinte cinco tostões!

Um dia, uma senhora de um quarto ligou-me para a recepção a pedir uma chamada para o exterior e enfiei as bananas (nome que se dava aos jacks de ligação) no sítio errado e pus a senhora a falar com um hóspede de outro quarto. Tanto quanto sei, sairam juntos e foram ao cinema. Se o engano se transformou numa seta de cupido, nunca iremos saber.

Com o meu primeiro ordenado, fui comprar uns ténis Le Coq Sportif ao Casão Militar, com o meu amigo de uma vida Eduardo Durão, que era voluntário na base do Montijo e podia frequentar aquela maravilhosa plataforma low-cost. Eu ganhava 9999$00 por mês e o Leote Cavaco nunca me deu os 10 tostões para poder trazer duas notas de cinco contos para casa! Trazia SEMPRE um envelope cheio de trocos! Ah…os ténis custaram 2200$00. Dois contos e duzentos. Quase um quarto do salário.

E esta é uma história, até ver com final feliz. Ontem fechei este maravilhoso primeiro ciclo, com altos e baixos, sangue, suor e lágrimas, algumas queimaduras e desilusões. 30 anos. E fechei o ciclo a trabalhar, claro. Fui homenageado durante o jantar, com um Douro Tinto Superior e 16 graus de calor alcoólico no copo e mais tarde, com uma reserva de vinho do Porto particular de 1986, que acompanhou a minha última doce loucura, a Revolução do Chocolate.

O meu 1º director, no Hotel Florida, disse-me na entrevista de trabalho: “Zé Carlos, isto só custa os primeiros 30 anos”. Fui ter com ele há 3 semanas, ao restaurante onde comecei a trabalhar em 1984, do qual ele era director de F&B e hoje em dia proprietário e disse-lhe “Gabriel, se só custavam os primeiros 30 anos, cheguei!”

 

Residencial Santo António ***

Alojamento e pequeno almoço continental

Croissant francês
Papo Seco
Bolachas variadas

Queijo triangular Tigre
Fiambre
Manteiga
Marmelada
Compota

Chá
Café com leite
Sumo de laranja

Não encontrei uma foto da residencial. Mas tenho este prospecto de 1934, do hotel da minha rua…

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Take my love,

Joe Best

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O menino, a praia e gostar de peixe azul http://dacozinha.net/2012/08/o-menino-a-praia-e-gostar-de-peixe-azul/ http://dacozinha.net/2012/08/o-menino-a-praia-e-gostar-de-peixe-azul/#comments Mon, 06 Aug 2012 13:20:53 +0000 http://dacozinha.net/?p=3163 Imagem (3)

Fui pescador da arte da xávega na Costa de Caparica. Andei ao mar com o Alemão, com o Corvo e com o Zé Braço (e filhos, Zé Aires e Bernardino) para mal dos pecados do meu pai e principalmente da minha mãe, que não dormia enquanto eu não chegasse…   Às algas, entre o Tarquínio […]]]>
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Fui pescador da arte da xávega na Costa de Caparica. Andei ao mar com o Alemão, com o Corvo e com o Zé Braço (e filhos, Zé Aires e Bernardino) para mal dos pecados do meu pai e principalmente da minha mãe, que não dormia enquanto eu não chegasse…

 

Às algas, entre o Tarquínio e o Paraíso, há 40 anos…

 

O melhor carapau do mundo, o ouro branco da Fonte da Telha

Carapaus na Fonte da Telha

Foto de Francisco Santos, 2007

Embarquei ao remo e aparelhei barcos, sempre com a recoveira carregada e bem carregada. Sei fazer redes de 3 panos, sei cosê-las e tambem sei largar um estramalho a cercar um esporão. Aprendi a fazer aparelhos com 200 e 300 anzóis, aparelhá-los numa canoa de verga e a largá-los também. Aprendi a pescar assim ao robalo, em dias de inverno rigoroso.

Quando ia ao mar com a companha, levava um maço de SG Gigante que era o que eu fumava e levava um de Kentucky, para os cravas.

Comia peixe que nunca passou pelo estreito de muita gente, deixava alguidares de peixe vivo à porta de casa e corria logo para a praia, para ajudar a montar toldos e barracas. Mergulhava em apneia no Scott, cargueiro de chumbo afundado em frente à Nova Praia, que tinha mexilhões com 15 cm de comprimento. E safios de 2 metros. E fanecas aos milhares.

 Eu e o Eduardo, na praia do Paraíso, Caparica

Havia uma manobra de pesca, que era quando a camarinha e o krill se aproximavam da costa e o carapau vinha atrás para comer…chamava-se “ir ao mar óver-dia” que penso que queria dizer “a-ver-o-dia” porque em vez de pescarmos do pôr do sol até de madrugada, pescávamos da madrugada até nascer o sol, mais perto de terra. Lembro-me de uma destas safras ter rendido 200 caixas de carapau e de ter ganho 5500$00 à  minha parte, mais de meio mês de trabalho comparando com o salário de recepcionista de hotel na altura…

E todos, mais ou menos, repartiam assim o saco (todos os arrais tinham um saco de pano, com as contas “de exploração”)

  • 3 partes – para o dono da arte – uma por ele, uma pelo barco, outra pela rede
  • parte e um quarto – para quem largava a rede e alava, ou remador experiente
  • 1 parte – para os adultos que embarcavam e alavam
  • 3/4 de parte – para adolescentes trabalhadores que alavam e ajudavam a aparelhar o barco
  • 1/2 parte para as mulheres que ajudavam a alar e a escolher peixe
  • 1/4 de parte  - para os gaiatos que colhiam e enrolavam a corda

Uma das maiores mágoas que guardo, é por causa da cavala e a sarda. Há sítios onde a cavala custa mais cara que o camarão, hoje em dia. Pensar que deixávamos toneladas no areal, de madrugada. Sem ninguém para as aproveitar. Não compensava nem era justo levar caixas para a lota e pagarem-nos 60$00 por 20 kg de peixe e no dia a seguir na praça, custar 200$00 o kilo aos veraneantes.

Na altura a cavala, o sarrajão, a sardinha e o chicharro eram “peixe azul” (dito com desdém) ou raimoso. Hoje têm Omega3 e já são o máximo.

Pelo menos os meus amigos que ao longo da vida foram cavala-evangelizados por mim, sabem que não era à toa que descrevia o peixe como sendo maravilhoso…e uma cavala de Julho, escalada e assada sobre brasas de bom carvão é uma delicatessen!

Aprendi a fazer caldeiradas, pitaus de ratão e raia, ameijoas japónicas da Trafaria e canivetes do Bugio. Aprendi a apanhar cadelinhas(conquilhas) grandes e a escolher as marés melhores para o fazer.

E assim cresci e me fiz homem nos areais da minha terra. Da minha Costa, porque fui concebido e criado nela. Nasci naquela casinha de outro senhor da Costa, o Alfredo, às Picoas. Onde nasceu meia Lisboa.

 

Obrigado também ao mar e aos homens do mar, que me fizeram conservar este menino que se emociona a contar-vos isto…

Take my love,

Joe Best

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