Beatriz Costa, AdC (Antes daCozinha) e os filetes com aconchego saloio

Jul 12, 2012 by

Em trinta anos de carreira, ligado à hotelaria e restauração, coleccionei histórias e experiências inesquecíveis. Uma delas, foi privar com a Menina da Franja – Beatriz Costa ou Beatriz da Conceição, seu nome verdadeiro…

 

 

No meu background, ainda enquanto barman e empregado de mesa, trabalhei nas cadeias de restaurantes The Great American Disaster e  The Big Apple, ambas de grande sucesso no seu tempo. O denominador comum, era o chef Silva, consultor da primeira e um dos sócios da segunda. Como trabalhei em todas as unidades, houve uma altura que trabalhei no the Big Apple da Barata Salgueiro, no edifício onde também funcionava o Ad Lib, famosa discoteca da altura. Serafim, o DJ imbatível e Teixeira, o grande porteiro, eram estrelas numa noite de Lisboa muito diferente da noite de hoje.

A passagem pela Barata Salgueiro acrescentou valor à minha experiência até então. Era um dos The Big Apple que não seguiu a linhagem tex-mex deixada pelo Great American Disaster, ficando a ementa a cargo do Chefe Silva, que além das pizzas,bifes, hamburgers e frango panado, acrescentou bacalhaus, pratos do dia e pastelaria francesa. E trouxe também a visita habitual de Beatriz Costa, hospedada no hotel Tivoli desde a revolução de Abril de 74.

A menina da franja, saloia de nascimento, da Charneca do Milharado, Mafra, saía do hotel quando o almoço não lhe “cheirava” e procurava nas redondezas por algo que lhe apetecesse. Numa destas saídas, apareceu no restaurante, bem pintada, bem vestida e cheia de graça como sempre, parando à porta (o bar era como uma recepção, rente à porta de vidro, que nos separava do corredor do mini centro comercial) a falar comigo – “oh filho, o que é o almoço?” – perguntou. E eu respondi “hoje são filetes com aconchego saloio”. Soltou sonora gargalhada e disse “ai filho, aconchego saloio fazia eu quando era nova”. Deixou recado para o Chefe Silva fazer comidas que ela gostasse e para se deixar de malandrices. Porque malandrices fazia ela comigo se fosse mais nova, que não lhe escapava. Era a piadola que soltava sempre que por lá aparecia.

Foi uma das grandes figuras com quem a minha carreira se cruzou e penso nela muitas vezes. Tive um prazer imenso em conhecê-la.

Filetes de pescada e aconchego saloio

Filetes temperados com leite, alho, limão, sal e pimenta, com algum tempo de antecedência.

Escorrem-se do tempero, passam-se primeiro por farinha peneirada para ficar bem fina e depois por gema de ovo bem batida, fritando-se de imediato em azeite ou óleo bem quente. A diferença de preço entre o óleo ou os azeites das marcas brancas vale bem a pena preferir o azeite.

Para o aconchego saloio, cozem-se batatas, cenouras e e folhas de couve, corta-se tudo grosseiramente e passa-se por azeite e alho, num salteado ligeiro. Sirvam com muita pinta, numa travessa do Bordalo Pinheiro, tirem a franja dos olhos e façam um brinde à Beatriz.

Take my love,

Joe Best

 

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